Os professores são mesmo poderosos!!

Janeiro 30, 2010

Noticia o jornal i:

Se o aluno chumba o ano, a culpa é do professor; se o aluno desiste de estudar, a culpa também é do professor; e se o aluno falta às aulas, a culpa é outra vez do professor. O sucesso escolar de uma criança está sempre nas mãos do professor. Nem as origens socioeconómicas nem o contexto familiar servem de justificação – a culpa é sempre da escola, que não soube encontrar as estratégias certas para ensinar os seus alunos.

Esta é a convicção de Paul Pastorek, superintendente para a Educação no estado de Luisiana nos EUA. Mais do que uma crença é uma teoria que o responsável máximo pela educação em Luisiana diz poder comprovar com dados estatísticos (ver caixa).

(…)

Este senhor deve ser muito especial, ou então foi muito infeliz na forma como se expressou (mesmo se diz que o pode comprovar com dados estatísticos… e todos sabemos como a estatística pode ser mentirosa e manipuladora). Defender isto é semelhante a dizer que qualquer criança pode ser qualquer coisa, dependendo apenas dos pais; que qualquer trabalhador pode ser o melhor e desempenhar qualquer tarefa, dependendo apenas dos patrões; que qualquer cidadão pode ser um cidadão modelo, dependendo apenas dos políticos!?

A verdade é que o professor pode ter alguma influência, para o bem e para o mal, mesmo quando as condições socioeconómicas e/ou familiares são adversas. Mas alguma influência não significa que possa mudar a vida de um aluno, mesmo se falamos apenas da vida escolar.


Não me apetece, mas…

Julho 17, 2009

Estou farto, fartinho, fartíssimo deste assunto – da avaliação de professores. Não me apetece falar mais nele. Mas ainda faço este esforço. Espero ser a última vez! Chegámos a um ponto em que não há palavras para descrever a situação: ridícula, kafkiana, aberrante, caótica, estúpida, hedionda, o que quiserem!

Neste momento, em que todas as forças políticas perceberam o ?????? (substituir pela palavra mais estranha que encontrarem) da situação, vem o ministério da educação (com letra minúscula: íssima) dizer que a avaliação simplificada foi prolongada por tempo indeterminado.

Para o PSD é a “confissão do desastre da política educativa“. Para o BE é um “erro trágico“. A FENPROF diz-se “chocada“. A FNE precisa de tempo para “analisar”, mas não tem muito por onde analisar – garanto. As posições do CDS e do PCP não devem divergir muito desta linha. Amanhã (hoje) saberemos.

Reparem que nem o vigoroso ministro dos assuntos parlamentares, Augusto Santos Silva – apelidado de ideólogo do regime, sempre pronto a defender aguerridamente as posições do trio de ataque do ME, se manifesta.

Isto tudo depois do relatório da OCDE, desta vez verdadeiro, não apenas uma coisa a fingir que é mas não é. Um relatório suavemente demolidor do modelo de avaliação em vigor, que ainda assim tem uma ou duas frases elogiosas ao ME, frases estas que os senhores da 5 de Outubro fazem questão de destacar.

Bom, depois de tudo isto chego a uma conclusão: excluindo os camaleões (que não são tão poucos quanto isso e que até são capazes de jurar que o vinho tinto é branco se isso lhes trouxer – ou parecer trazer – algumas benesses), restam umas poucas dezenas de convictos militantes do PS a defender esta avaliação e mais uns poucos milhares de cidadãos. Este últimos dividem-se em dois grupos:

  • os que por algum tipo de ressabiamento – sem querer fazer psicanálise colectiva – talvez tenham algum recalcamento com a escola;
  • os que pararam naquela parte em que pensam que os professores não querem ser avaliados e que a questão se resume a avaliar ou não avaliar.

Com isto tudo estou… pode ser entorpecido!?

Amanhã escolho outra [palavra]!


Da formação de professores – parte 2

Julho 8, 2009

Depois deste meu post a propósito da formação de professores, encontro aqui o relato de um outro problema muito comum, não apenas no domínio da filosofia.

Uma das necessidades que sinto como professor é a de formação na minha área científica. Ela é não só rara como obrigatória. Sou daqueles que de bom grado pagaria a formação se ela aparecesse. Como raramente aparece vou fazendo formação em áreas que pouco ou nada adiantam à minha prática lectiva e em quase nada me tornam melhor profissional. Esta semana quando me dirigi ao quadro de propostas de formação para este final de ano lectivo, a oferta era muito reduzida. Em filosofia nenhuma havia. Poucas ou nenhumas existiam em outras áreas científicas, como física, biologia ou história. A quase totalidade da oferta é em áreas de pedagogia romântica ou artes e ofícios (pintar azulejos, etc.) e em Educação Física (quase todas versando pouco em educação física propriamente dita, mas em pequenas actividades práticas). Mas vi duas que me despertaram a atenção. É certo que uma delas é destinada a professores de Educação Física, mas a outra (não me lembro bem qual das duas) é destinada a todos os docentes. Vale a pena observar os títulos e pensar um pouco o que raio vai fazer um professor de filosofia ou matemática a formações com os títulos que a seguir transcrevo:<

“Salto à corda, um salto para a saúde”
“Escalada – propostas de abordagem pedagógica no contexto escolar”

Confesso gostar especialmente da segunda. Deixa-me a pensar que o uma vez chegado o verão posso sempre inventar uma actividade como:

“Beber Cerveja na esplanada aqui ao lado: subsídios para a compreensão ôntico- epistemológico da circunstância metafísica do existir”

Ou então

“Introdução ao tremoço em contexto da docência centrada na bipolaridade ensino- aprendizagem”

Não sei que pensar. Aceitam-se sugestões.

O que pensar, pergunto eu também?


Voto a favor

Julho 1, 2009

Eu voto a favor, sem reservas.

Os professores a quem for atribuído Excelente devem ficar com as turmas mais difíceis da escola. Documento apresentado ao Conselho Pedagógico

Ao Conselho Pedagógico

Ser-se avaliado em Professor Excelente não é a mesma coisa que ser-se um excelente professor.
E não é fácil, um professor ser avaliado em EXCELENTE!
É difícil, muito difícil mesmo e, numa escala de valores, ser EXCELENTEé ainda mais do que ser-se MUITO BOM. Eu disse mesmo M-U-I-T-O–B-O-M; não disse BOM.
Ser-se portanto EXCELENTE é o mesmo que ser-se perfeito, distinto, notável, admirável, brilhante, magnífico, óptimo. São sinónimos que o qualificam extraordinariamente, que o qualificam como O MELHOR de entre aqueles que já sãoMUITO BONS.
Tal como o Ministério preconiza, os professores titulares têm obrigação de ter as maiores responsabilidades nas escolas porque os considera melhores que os outros; então, também deve caber aos professores EXCELENTES serem os mais responsáveis em todo o processo ensino/ aprendizagem e em todas as funções e tarefas do contexto escolar.
E se um professor titular, de acordo com o ministério, já é do melhor que existe numa escola, então, um professor TITULAR EXCELENTE é muito mais! Além de distinto, perfeito, admirável, notável, brilhante, magnífico e óptimo, ainda tem mais um atributo: ser TITULAR. Este título não é para muitos!
E, mesmo, ser-se apenas EXCELENTE já haverá poucos, muito poucos!
Posto isto, gostaria de propor para análise aos colegas deste Conselho Pedagógico o seguinte: aos professores que, nesta fase, forem avaliados em EXCELENTE, sejam eles titulares ou não, deverão, a partir do próximo ano lectivo, leccionar as turmas mais «difíceis» da escola, bem como direcções de turma e cursos que só eles, pelas suas reconhecidas qualidades evidenciadas neste rigoroso processo que tem sido a avaliação de desempenho docente, serão capazes de resolver ou minimizar problemas da melhor forma, contribuindo, assim, para que a escola seja também melhor. O rigor desta avaliação deu-lhes esse direito. É por isso que vão ser beneficiados na pontuação para concursos, no concurso para titulares, em prémios pecuniários, … É por serem EXCELENTES, por serem os MELHORES DOS MELHORES, por serem perfeitos, distintos, notáveis, admiráveis, brilhantes, magníficos e óptimos que devem mostrar aos outros como se deve fazer.
Não é pois justo nem razoável que a escola deixe escapar este capital de conhecimentos mantendo os restantes professores com turmas difíceis e funções e tarefas complicadas, aparentemente bons professores, é verdade, mas incapazes de evidenciar os dotes que, em rigor, os professores EXCELENTES foram capazes de demonstrar nesta avaliação criteriosa dirigida ao desempenho de cada docente.
Certo da melhor atenção dos colegas e consciente da importância desta análise, solicito que, após reflexão devida, esta proposta baixe aos Departamentos e deles seja considerado o conjunto de opiniões formuladas.

Francisco Teixeira Homem, professor titular

(Texto recebido por email. Obrigado, Adriano.)
Disponível no blog ProfAvaliação.


Da formação de professores

Junho 30, 2009

Recentemente, frequentei uma acção de formação para professores. Apercebi-me de uma perversidade que ainda não tinha dado conta.

As formações são muito diversas. Apesar de em alguns centros de formação existir uma selecção criteriosa, em que alguns candidatos ficam de fora, a candidatura depende, em grande parte, da vontade dos professores. Acontece que, com o actual estatuto da carreira docente, a avaliação desta formação entra na avaliação de desempenho, tendo, depois, consequências na progressão da carreira. Parece tudo bem? Vejamos.

Concretizando com um exemplo, consideremos um professor de informática. O centro de formação ao qual “pertence” oferece duas acções de formação: motivação de alunos com truques de word (normalmente têm nomes mais formais) e programação avançada em python (O que é isso?, dirão alguns. Ainda por cima avançada?).

Face a estas opções, o professor fica num dilema: escolho uma acção de formação fácil, onde não aprendo nada mas aplico o que já sei para obter uma boa classificação?; ou, por outro lado, inscrevo-me numa acção desafiante, que me pode enriquecer, que provavelmente até é dada por um formador sério e exigente que dificilmente atribuirá classificações máximas?

Quem escolheu a primeira, muito provavelmente fez também outras opções (como investir no portfólio, na encenação das aulas assistidas, nas relações com o poder – leia-se, avaliadores permeáveis -, que lhe permitirão ser (devo dizer parecer?) um professor “Excelente”.

Quem escolheu a segunda, muito provavelmente, também, fez outras opções de carreira (como não entregar objectivos individuais e concentrar-se naquilo que é essencial) que o condenarão, na melhor das hipóteses, a ser um “Bom” professor.


Manifestação de professores

Maio 30, 2009

manif20090530

Na véspera, em preparativos para a viagem, ao contrário do que tinha decidido, por razões pessoais fui obrigado a mudar a minha decisão. Não fui presencialmente mas fui em espírito. Ainda bem que a minha cabeça não fez falta.

Seja como for, com 50 ou 55 mil segundo a polícia (que aprendeu a contar), com 70 mil segundo a FENPROF, ou com mais de 80 mil segundo o twitter em directo do SPN, estou muito contente. Tinha receio que fossem menos de 50 mil.

50 001 (ou mais) fizeram a diferença.

Obrigado a todos.


Manifesto Conjunto

Maio 28, 2009

30-de-maio

Também subscrevo o manifesto. Lá estaremos no Sábado.

1) Este governo desfigurou a escola pública. O modelo de avaliação docente que tentou implementar é uma fraude que só prejudica alunos, pais e professores. Partir a carreira docente em duas, de uma forma arbitrária e injusta, só teve uma motivação economicista, e promove o individualismo em vez do trabalho em equipa. A imposição dos directores burocratiza o ensino e diminui a democracia. Em nome da pacificação das escolas e de um ensino de qualidade, é urgente revogar estas medidas.

2) Os professores e as professoras já mostraram que recusam estas políticas. 8 de Março, 8 de Novembro, 15 de Novembro, duas greves massivas, são momentos que não se esquecem e que despertaram o país. Os professores e as professoras deixaram bem claro que não se deixam intimidar e que não sacrificam a qualidade da escola pública.

3) Num momento de eleições, em que se debatem as escolhas para o país e para a Europa, em que todos devem assumir os seus compromissos, os professores têm uma palavra a dizer. O governo quis cantar vitória mas é a educação que está a perder. Os professores e as professoras não aceitam a arrogância e não desistem desta luta: sair à rua em força é arriscar um futuro diferente. Saír à rua, todos juntos outra vez, é o que teme o governo e é do que a escola pública precisa. Por isso, encontramo-nos no próximo sábado.


Professores aposentados voluntários

Maio 21, 2009

Foi hoje publicado o Decreto-Lei n.º 124/2009 que «Estabelece o regime jurídico aplicável ao trabalho voluntário nas escolas realizado por pessoal docente aposentado».

Retirei alguns excertos que merecem reflexão.

Começa assim:

No âmbito de uma evolução personalista, ligada ao direito ao desenvolvimento da personalidade

Expliquem-me como se eu fosse muito burro! Evolução personalista? Desenvolvimento da personalidade? Eu sei que se aprende até morrer, mas espera-se que um professor aposentado ainda esteja a desenvolver a personalidade? O que andou a fazer o resto da vida?

Personalista? Fui consultar o dicionário… Isto quer dizer «acção de atribuir tudo a si», «individualismo». Não será isto incompatível com o voluntariado?

No final da primeira página:

Assim, a colaboração dos docentes aposentados constituir-se-á como uma actividade assente no reconhecimento das suas competências científicas, pedagógicas e cívicas, sendo exercida de livre vontade e não remunerada, numa prática privilegiada de realização pessoal e social.

Pois, está bem. Que era não remunerada já todos sabíamos. Sobre a realização pessoal e social, veremos.

O ponto 2 do Artigo 6.º diz:

A prestação do professor voluntário é realizada por um número de horas mínimo, a definir pelo órgão de gestão do agrupamento ou escola não agrupada, em função do projecto a desenvolver.

Agora o voluntariado também já tem serviços mínimos?

O ponto 3 do Artigo 7.º diz:

O professor voluntário elabora um relatório anual da actividade que deve integrar uma auto-avaliação do trabalho desenvolvido.

Ai os papéis… E as reuniões? O Decreto-Lei não fala nelas… mas, pergunto eu, quantas serão precisas? E reunites? Algumas?

Este Decreto-Lei é para rir ou para chorar?

Sou a favor do voluntariado, inclusive nas escolas. Até gosto da ideia de promover o voluntariado por parte dos professores aposentados. Mas isto? Isto é brincar com as pessoas que foram mal tratadas e chutadas (sim, algumas foram moral e emocionalmente chutadas) para fora das escolas. Isto é uma tentativa (espero que não passe disso) de mobilizar recursos humanos para as escolas sem lhes pagar. Mais, é uma tentativa de controlar o que fazem e os passos que dão como se houvesse uma relação de subordinação hierárquica. É a isto que chamam voluntariado?

Leiam ao menos o dicionário e chamem-lhe outra coisa.

Voluntário (in Dicionário Porto Editora da Língua Portuguesa):
– que se faz de livre vontade.
– sem constrangimento.
– que procede espontaneamente.


Parlamento Europeu fez-me sentir…

Abril 30, 2009

…como uma mulher, por causa deste comunicado de imprensa onde diz:

(…)

Os professores são uma peça essencial para uma escola de qualidade e, como tal, devem ser-lhes oferecidos “níveis de reconhecimento social, estatutos e remunerações condizentes com a importância das suas funções”, defende o Parlamento Europeu na resolução “Melhores escolas: Uma agenda para a cooperação europeia”.

Os resultados positivos do ensino dependem, segundo o documento, do “respeito assegurado à autoridade dos professores”. Os professores devem ainda reflectir a diversidade da sociedade, o que se traduz, por exemplo, na necessidade de atrair mais homens para a docência.

(…)

Será que os homens também vão passar a precisar de quotas?


The Teaching Awards

Dezembro 9, 2008

Estes são um bocadinho diferentes dos “nossos”. Pena os critérios não estarem disponíveis. Têm de ser pedidos por email…