Esta alienação de lucidez
é tão lucidamente alienante
que marca com rigidez
tudo o que for estruturante.
Alienez
Abril 5, 2011O lado cheio do vazio
Abril 15, 2010Estes dias foram grandes,
tão cheios e preenchidos.
Que semanas produtivas,
de estudo
e progresso,
trabalho
e inovação.
Só por isso foram grandes,
e também há tudo o resto…
Mas se penso na liberdade,
na leitura
e na escrita,
ou na escolha
e na reflexão:
não saí do lugar.
Quem sabe se andei para o lado:
esquerda ou direita?
Sintaxe
Abril 11, 2010Porque a poesia continua a ter o poder de resumir em poucas palavras aquilo que só se pode dizer em muitas.
Anda a gente um dia inteiro atrás de um verso.
Os delírios soltos, claro, não adiantam
grande coisa. É como curar maleitas
com fumos e cataplasmas. Enfim,
deve ser o nosso táxi. Na rádio (bossa nova,
cha cha cha, easy listening) o futebolista
fala a língua de todos os homens:
«sempre foi um treinador que no qual
adorei jogar ao lado dele». Seja como for,
nunca o venceremos com palavras.
No campo, escusado dizer, pior ainda.Vítor Nogueira
Razão
Julho 26, 2009Tenho prazer em ser vencido quando quem me vence é a Razão, seja quem for o seu procurador.
– Fernando Pessoa
Identidade
Março 8, 2009Preciso ser um outro
para ser eu mesmo
Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta
Sou pólen sem insecto
Sou areia sustentando
o sexo das árvores
Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro
No mundo que combato
morro
no mundo por que luto
nasço
Mia Couto
Caminhos
Março 5, 2009Disse Liev Tolstói que:
Não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma consequência.
Sintonia, é o que sinto com estas palavras.
Ser Humano
Fevereiro 10, 2009O que dizer destas palavras de José Saramago? (daqui)
Sigifredo López é o nome de um deputado colombiano sequestrado durante sete anos pelas FARC e que acaba de recuperar a liberdade graças à coragem e à persistência, entre outros, da senadora Piedad Córdoba, principal dirigente do movimento social e humanitário “Colombianos pela paz”. Graças a uma circunstância que parecia impossível dar-se, Sigifredo López, que fazia parte de um grupo de onze deputados sequestrados, dez dos quais foram, não há muito tempo, assassinados pela organização terrorista, pôde escapar ao massacre. Agora está livre. Na conferência de imprensa logo realizada em Cali, entendeu manifestar a sua gratidão a Piedad Córdoba em termos que comoveram o mundo. Aqui nos chegaram essas palavras e essas imagens estremecedoras. Nunca pude alardear de firmeza emocional. Choro com facilidade, e não por causa da idade. Mas desta vez fui obrigado a romper em soluços quando Sigifredo, para expressar a sua infinita gratidão a Piedad Córdoba, a comparou à mulher do médico do Ensaio sobre a cegueira. Ponham-se no meu lugar, milhares de quilómetros me separavam daquelas imagens e daquelas palavras e o pobre de mim, desfeito em lágrimas, não teve outro remédio que refugiar-se no ombro de Pilar e deixá-las correr. Toda a minha existência de homem e de escritor ficou justificada por aquele momento. Obrigado, Sigifredo.
Sentidas? Emotivas? Honestas? Generosas? Humanas?
Não sei. Acho que quaisquer palavras serão pobres.