Votar numa eleição que não existe

Setembro 11, 2009

A eleição perversa, um texto interessante e claro, para reflectir:

As eleições legislativas de 27 de Setembro servem para eleger 230 deputados à Assembleia da República. Mas se perguntarmos a qualquer cidadão na rua para que vai votar nesse dia, com toda a certeza que a resposta mais frequente que ouvirá é que o cidadão vai eleger o Primeiro-Ministro. A isto conduziu a fulanização da política e das eleições. Interessa mais o estilo do que as ideias, o aspecto do que a substância, as palavras do que os programas.

Poucos saberão os nomes daqueles cuja vida vai mudar se forem eleitos deputados. Mas todos discutem se Sócrates é melhor que Ferreira Leite ou vice-versa. Por outras palavras: os cidadãos aprestam-se para votar numa eleição que não existe na lei, a de Primeiro-Ministro e não votar na eleição efectivamente prevista na lei, a dos deputados, cujos nomes nem se dão ao trabalho de ler à porta das assembleias de voto, mais que não seja, uns minutinhos antes de entrar na cabina de voto.

Esta disfunção mostra bem a desadequação do sistema político português. Ela gera um vazio de representação política parlamentar. Ninguém se pode sentir representado por quem nem sequer conhece. Ninguém se pode sentir representado por quem não pode responsabilizar pelos seus actos. Na verdade, os eleitores que conscientemente votam em deputados, nem sequer estão a escolher. Estão a escolher entre escolhidos. É a ilusão da democracia representativa.

Existem duas reformas essenciais a fazer no sistema eleitoral.

A primeira é permitir as candidaturas de independentes à Assembleia da República. O campeonato partidário está esgotado, viciado à partida. Precisa de um grande susto. E a democracia precisa de respiração. O monopólio partidário nas eleições legislativas está a corroer a democracia por dentro, porque contribui para o distanciamento dos cidadãos da instituição parlamentar, e contribui para o descrédito do próprio sistema.

A segunda é a da criação de círculos uninominais, para que toda a gente tenha efectiva capacidade de decisão eleitoral e saiba quem é o seu deputado. Evidentemente que os partidos têm medo disto, porque o poder das direcções escolherem os seus fiéis para as listas fica comprometido. Mas, não tenhamos dúvidas, estas duas medidas provocariam um novo entusiasmo cívico e político na sociedade portuguesa e dotaria o sistema político de mais saúde e transparência.

(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro e no Tomar Partido)


Reforços mais credíveis

Setembro 11, 2009

Acerca da Gripe A, mas não só, pois estas medidas deveriam ser prática comum nas escolas, fico mais optimista com esta notícia do Correio da Manhã:

Escolas gastam seis milhões contra a gripe

As medidas de prevenção e o combate ao vírus H1N1 nas escolas portuguesas vão custar ao Ministério da Educação, este ano lectivo, cerca de seis milhões de euros.
Fonte do Gabinete de Gestão Financeira do Ministério disse ao CM que as previsões apontam para um gasto médio de 4 mil euros por cada um dos cerca de 1200 agrupamentos de escolas.
Aos 4,8 milhões gastos em kits de prevenção para as salas de aula, gel antibacteriano, desinfectante, pulverizadores, máscaras e luvas, deve somar-se 1,2 milhões em obras de adaptação, acções de formação e trabalho suplementar. É que, além de as casas de banho das escolas terem de passar a ser limpas pelo menos quatro vezes por dia, em todos os intervalos terão de ser desinfectados os corrimões e os puxadores das portas.

Há muito que isto era necessário, até pelos efeitos pedagógicos que tem.

Resta esperar para ver.