Vida boa

Abril 3, 2009

Pedro e Nuno (não se conhecem), este post é-vos dedicado, com uma sugestão de leitura de onde retirei este excerto (ÉTICA PARA UM JOVEM, Fernando Savater):

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Não há animais maus nem bons na Natureza, embora talvez a mosca considere  a aranha que lança a sua teia e a come. Mas a aranha não o pode evitar…

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Por grande que seja a nossa programação biológica ou cultural, nós, seres humanos, podemos acabar por optar por algo que não está no programa (pelo menos que lá não está totalmente). Podemos dizer «sim» ou «não», «quero» ou «não quero».

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Quanto te falo de liberdade é a isto que me refiro. Ao que nos diferencia das térmitas e das marés, …

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A palavra «moral» tem que ver etimologicamente com os costumes…, e também com as ordens, pois a maior parte dos preceitos morais dizem qualquer coisa como «deves fazer isto» ou «não te lembres sequer de fazer aquilo».

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Às vezes chamar «bom» a alguém não quer dizer nada de bom.

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Numa palavra, se tivesses que resumir tudo isto e pôr sinceramente em palavras o teu desejo global e mais profundo, dir-me-ias: «Olha, pai, o que eu quero é ter uma vida boa

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…a ética é apenas o propósito racional de averiguar como viveremos melhor. Se nos vale a pena interessarmo-nos pela ética, é porque nos agrada uma vida boa.

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Queres ter uma vida boa: magnífico. Mas também queres que essa vida boa não seja a vida boa de uma couve-flor ou de um escarravelho, com todo o respeito que tenho por ambas as espécies, mas uma vida humana boa. É o que interessa, creio eu.

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Ser-se humano, já o vimos antes, consiste principalmente em ter relações com outros seres humanos. Se pudesses ter muito, muito dinheiro, uma casa mais sumptuosa do que um palácio das mil e uma noites, as melhores roupas, os alimentos mais requintados (montes e montes de lentilhas!), as aparelhagens mais perfeitas, etc., mas tudo isto à custa de não voltares a ver nem ser visto – nunca – por um outro ser humano, ficarias satisfeito?